Engoli
água. Profundamente: - a água estancada no ar.
Uma estrela materna.
E estou aqui devorado pelo meu soluço,
leve da minha cara.
O copo feito estrela. A água com tanta força
no copo. Tenho as unhas negras.
Agarro nesse copo, bebo por essa estrela.
Sou inocente, vago, fremente, potente,
tumefacto.
A iluminação que a água parada faz em mim
das mãos à boca.
Entro nos sítios amplos.
- O poder de reluzir em mim um alimento
ignoto; a cara
se a roça a mão sombria, acima
da camisa inchada pelo sangue,
abaixo do cabelo enxuto à lua. Engoli
água. A mãe e a criança demoníaca
estavam sentados na pedra vermelha.
Engoli
água profunda.
Herberto Helder, in "A faca não corta o fogo" assírio & alvim, 2008
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9 comentários:
um parto?
roubei-te o herberto
Sempre.
um bom livro.
na linha do "poema contínuo";)
abraço
o novo antlogico a ser lançado hoje?
uma sumula revista do poema continuo
a ver vamos
Queria tanto, tanto este livro.
Ouvi dizer que o autor não autoriza a reedição. Porquê? Alguém me sabe dizer?
Estou mesmo triste.
ana, bem procurado ainda se arranja, basta optar por não ir às chamadas "grandes livrarias", o modo de ser do autor acabou por servir de marketing, e o livro foi-se... ainda ontem entrei numa livraria em portimão que tinha pelo menos 3 exemplares disponiveis...
miguel, ainda não desisti, mas está complicado, complicadíssimo...
Obrigada.
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