Engoli
água. Profundamente: - a água estancada no ar.
Uma estrela materna.
E estou aqui devorado pelo meu soluço,
leve da minha cara.
O copo feito estrela. A água com tanta força
no copo. Tenho as unhas negras.
Agarro nesse copo, bebo por essa estrela.
Sou inocente, vago, fremente, potente,
tumefacto.
A iluminação que a água parada faz em mim
das mãos à boca.
Entro nos sítios amplos.
- O poder de reluzir em mim um alimento
ignoto; a cara
se a roça a mão sombria, acima
da camisa inchada pelo sangue,
abaixo do cabelo enxuto à lua. Engoli
água. A mãe e a criança demoníaca
estavam sentados na pedra vermelha.
Engoli
água profunda.

Herberto Helder, in "A faca não corta o fogo" assírio & alvim, 2008

9 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Cristina Leonardo disse...

um parto?

Ana Cristina Leonardo disse...

roubei-te o herberto

hfm disse...

Sempre.

Ricardo Pulido Valente disse...

um bom livro.

na linha do "poema contínuo";)

abraço

observatory disse...

o novo antlogico a ser lançado hoje?

uma sumula revista do poema continuo

a ver vamos

Anónimo disse...

Queria tanto, tanto este livro.
Ouvi dizer que o autor não autoriza a reedição. Porquê? Alguém me sabe dizer?
Estou mesmo triste.

miguel. disse...

ana, bem procurado ainda se arranja, basta optar por não ir às chamadas "grandes livrarias", o modo de ser do autor acabou por servir de marketing, e o livro foi-se... ainda ontem entrei numa livraria em portimão que tinha pelo menos 3 exemplares disponiveis...

Anónimo disse...

miguel, ainda não desisti, mas está complicado, complicadíssimo...
Obrigada.