O meu coração nasceu nu,
logo em fraldas embalado.
Só mais tarde usou
poemas em vez de roupas.
Tal como a camisa que punha
levava sobre o corpo
a poesia que lera.
Vivi meio século assim
até que, sem uma palavra, nos encontrámos.
A minha camisa nas costas da cadeira
diz-me que hoje percebi
quantos anos
a decorar poemas
esperei por ti.
John Berger, in "E os nossos rostos, meu amor, fugazes como fotografias" quasi, 2008
trad. Helder Moura Pereira
ilustr. Gerad Dubois
4 comentários:
Poucas vezes li algo tão bonito.
depois de férias no coração político da europa, o regresso a lisboa, os regresso aos blogues...
lançamento do livro a 6 de julho
Fiz alguma publicidade ao Blog. Ver http://ocafedosloucos.blogspot.com/
Ivo
Não gosto muito deste adjectivo, muito menos para aplicar a poemas, mas aqui é mesmo o mais indicado: lindo.
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