UMA CONVERSA

Num campo de trigo,
O homem está vestido com uma túnica de renda ocre manchada de vermelho.
O cavalo está nu. Pende-lhe da cauda uma caixa de fósforos donde saem as antenas de uma rã.
O homem está sentado numa almofada com desenhos verdes.
O cavalo montado no homem.
O homem: — Desprezámos o diamante verde?
O cavalo: — Creio que pela lei devíamos fazê-lo. Estando a lei diminuída, o meu espírito pede a redução das velas.
O homem: — Lembra-te, esperto, que o homem não tem o direito de satisfazer os empregados e que mesmo o telefone se recusa a pagar os impostos.
O cavalo: — Compreender é diminuir.
O homem: — Não, visto que ainda não tentámos a nossa sorte. Poderíamos fazê-lo, dado que é mais fácil.
O cavalo: — Não, não, não acredito nessas coisas concretas que devem, apesar da dignidade que possuem, esgotar a lenga-lenga. Canse-os, diga-lhes parvoíces que tirem a coragem, verá como eles nos seguem.
O homem — Para quê? Já não tenho bastantes chatices com que me ocupar, quanto mais o rabo de um milionário.
O cavalo: — O amor que amei sempre me apreciou!
O homem: — Sim, eu também.
O cavalo: — Somos os dois do mesmo naipe.


Gisèle Prassinos
trad. Isabel Hub Faria

foto. Man Ray [ Gisèle Prassinos lendo para André Breton, Paul Éluard, Mario Prassinos, Henri Parisot, René Char e Benjamim Péret ] 1934

in, "antologia do humor negro" afrodite, 1973
org. André Breton

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