«(...), numa noite de lua cheia saíram ambos de casa, levando ao pescoço as correntes enferrujadas e na alma os seus anos de privação; na montanha, atrás do chalé, meteram-se entre pinheiros de cabeça trémula e pedras pardas, esses dentes de siso de uma natureza a rir-se. Uma vez ali, obrigou-a a pôr-se de joelhos, bem agarrada pelos cabelos, abriu-lhe brutalmente as coxas e enfiou-lhe a língua no umbigo, vergando-a para trás, até a cabeça tocar no chão. Ficou muito tempo a limpar os demónios familiares do seu corpo; e por fim, impressionado pela nudez flácida da esposa submissa que parecia adormecida com a língua de fora, deitou-a na erva já mordida pela lua e saltou-lhe para cima sem ter o trabalho, sequer, de se despir. Ficou em cima dela, com os dentes enterrados nos pescoço ofegante e tenso, a chupar. Deu-lhe uma esfrega, cobriu-lhe o corpo com terra e escarrou uma bílis fresca nos seus olhos; apalpou-lhe a carne, febril, e com a raiva já murcha fez um sinal-da-cruz, dizendo: «Queira Deus que não voltem a ser gémeos».
A mãe não sentiu dor nenhuma. Jazia indolente no chão, com as pernas em arco inundadas de orvalho, lambidas pelos cães vadios da noite, com os seios a falarem baixinho e a cabeça a esvaziara-se aos poucos entre as gulosas gengivas do pai.
O homem levantou-se, cuspiu um dente e sulcou com duas unhadas as tetas tetas da mãe. «Vamos para casa, disse, que tenho os pés a doer».»
Joyce Mansour, in "Júlio César - história nociva-" hiena, 1987
trad. Aníbal Fernandes
Sem comentários:
Enviar um comentário