NOTÍCIA ACRÓSTICA

Os quartos são feitos para regressar a eles
Depois de o tempo passar.
Pandemónio, vozes silenciosas apenas um instante
De choque. O sal queima,
O medo jaz como seda sob a luz do sol.
As sombras vivem para cegar a criança.
De agora em diante a casa nunca estará vazia;
Mesmo o hóspede exangue contará
Os amanheceres de chuva antes da sua partida.
Algures significa andar uma milha ou mais para Este.

Apesar do que se diz noutros lugares,
Um desesperado crepúsculo traz uma outra paz.
Veias mais longas,
Um anfitrião coxo,
Servem para cativar.
A alquimia acabou com o cobalto.
Hoje em dia os herejes são estrangulados.
Evidência: a compulsividade é o destino
E qualquer vento contra cheira a Deus.
Rio abaixo está o caminho; concordas? Aguenta.


Paul Bowles, in “Poemas” assírio & alvim, 2008
trad. José Agostinho Baptista

6 comentários:

Anónimo disse...

Paul Bowles nunca foi poeta digno de nota ou atenção, e surpreendeu-me que o Agostinho Baptista o tenha tornado minimamente poeta

miguel. disse...

Caro anónimo, creio que José Agostinho Baptista não torna Paul Bowles num poeta, limita-se apenas a traduzir os poemas que este escreveu, devo confessar, foi uma grande descoberta, para quem é simpatizante da chamada Beat, não deixa de ser uma agradável surpresa…

Anónimo disse...

Miguel, saí como "Anónimo"? Oh diabo... O que eu pretendia dizer e repito, é que esta versão dos "poemas" de Paul Bowles é superior a quaisquer outras que conheço, particularmente a espanhola da colecção Visor.
E não vá qaulquer coisa trair-me a identidade, ela aqui fica. fallorca

miguel. disse...

Fallorca, interpretei mal o seu comentário e como normalmente fico incomodado com os anónimos talvez não tenho respondido da melhor forma, para mim foi muito bom ter saído esta edição dos poemas do Paul Bowles, e bilingue o que é sempre agradável, há muito que tinha curiosidade na poesia deste senhor, tudo o que li dele gostei, realmente a poesia não é o seu forte creio que a força deste autor está na prosa dos seus romances, mas ficamos mais ricos e só temos que agradecer a excelente tradução de José Agostinho Baptista.
abraço.

p.s ainda não foi desta que bebemos um café fora daqui…

bruno disse...

mesmo muito boa tradução do josé agostinho baptista. comprei ontem esta edição porque fiquei mesmo muito surpreendido com o que o josé agostinho lhe fez. espantoso como fez cada verso valer por si (o que falta na linguagem do bowles), e lhes deu, rítmica e cromaticamente, o que no original faltava. como se a poesia do bowles tivesse eclodido em português.
abraço, miguel.

Anónimo disse...

É sempre bom ficarmos entendidos, mesmo que as opiniões diferentes, o que até nem foi o caso e aí está o Bruno a confirmá-lo.