EM TODA A CASA
Pelas paredes cheira ainda à tua pele cutânea.
Mas desde que te foste
estar aqui é oco, cansativo, uma espera.
E às vezes
(como se tivéssemos chorado)
respirar custa.
Sobretudo nada apetece.
Sair para a rua? Ir então em frente a repetir os passos
passear nas avenidas a espaçar as horas
dispersar a espera?
Tudo cinzento. Choverá?
Aqui é que não fico. No quarto onde dormimos
o espaço sobra, e cada coisa já morreu ou está a mais.
Em toda a casa uma violência subterrânea:
a tua ausência.
João Habitualmente, in "Os animais antigos" objecto cardíaco, 2006
imagem de Gerard Dubois
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