VÍRGULA

Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.

A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.

Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.

E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.

Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida.
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como frágil véu que nos separa vedados e proibidos.



António Maria Lisboa, in "Poesia" assírio & alvim, 1995

imagem de Hadley Hooper

3 comentários:

Roberto Bessa disse...

"a necessidade dos oásis perdidos"
CAFÉ DOS LOUCOS é uma espécie de Oásis que, por sinal, muito admiro.
Considero Antônio Maria Lisboa um dos maiores poetas portugueses, ao lado de Cesariny, e lamento que seja pouco conhecido por estes lados (Brasil).

Roberto Bessa

http://dentesurrealista.blogspot.com

Anónimo disse...

C´est un très beau déssin.

magarça disse...

Gosto tanto deste livro onde se reúne a curta obra que A. Maria Lisboa nos deixou.