A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-meo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Pare eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce —
A palavra que nunca se profere.


Adolfo Casais Monteiro

imagem de Gérad Dubois

3 comentários:

linfoma_a-escrota disse...

MARCHA FÚNEBRE

Tão só e sem humor
como poeta pubertário que
usa o papel para fugir e não para enriquecer.
Os segundos de desperdício no teletexto
passam mais dolorosos que nunca.
Frustra usar palavras simples
e conter imagens que desconheço
por se esconderem
sob as rochas, montes e vales
da imaginação vulgar
que exige quarentena epicurista da morte
e do amor.
Neste cemitério redondo
a abarrotar de mamíferos tontos
onde as lascas de nós mesmos
se vão revezando
na teimosia ciclíca dos motivos
escondidos em caveiras e esqueletos
de histórias de quem já bebeu, fumou e dançou
ao desbarato da alienação
pelas ruas do dia e da noite,
súmulas dúvidas e impressões de que no fim
rastejaremos todos
deixando os joelhos da melancolia em carne viva
como as borboletas
por que lutámos para que floresçam
nas asas autocráticas da
beleza momentânea. 2003
in fotosintese



WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM

mar disse...

isto dilacera.

(assim... mute)
reconheço o sabor deste café.

gostei muito.

hazey jane disse...

perfeito. é tão bom sentir que encontro sempre algo assim neste espaço.