[ Sade contra Deus ] apartado 44, 1982
Assim pudesses tu, ser quimérico e vão, cujo nome bastou para fazer correr mais sangue à superfície do globo do que qualquer guerra política, voltar para o Vazio onde te foi, infelizmente buscar a louca esperança dos homens e o seu ridículo temor. Não surgiste senão do suplicio do género humano. Quantos crimes não se teriam evitado sobre a terra, se se tivesse degolado o primeiro imbecil que se lembrou de falar de ti! Mostra-te pois, se existes; não aceites que uma fraca criatura ouse insultar-te, provocar-te, humilhar-te como o faço, que ouse negar as tuas maravilhas e rir da tua existência, vil fabricante de pretensos milagres! Faz um só, um que seja, para nos provar que existes; mostra-te, não numa sarça ardente, como se diz que apareceste ao bom Moisés, não sobre a montanha, como te mostraste ao abjecto leproso que se dizia teu filho, mas junto do astro que te serves para iluminar os homens: que a tua mão aos seus olhos pareça guiá-lo; esse acto universal, decisivo , não te deve custar mais do que todos os sortilégios ocultos que operas, ao que se diz, todos os dias. A tua glória só ganhará com isso; ousa-o, ou cessa de te espantares com o facto de todos os bons espíritos rejeitarem o eu poder e se subtraírem às tuas pretensas inspirações, às fabulas, em suma, que publicam sobre ti aqueles que engordam como porcos pregando-nos a tua fastidiosa existência e com as vitimas imoladas no altar, só exaltam o seu ídolo para multiplicarem os holocaustos.
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