Cega-me os olhos, e ver-te-ei
Tapa-me os ouvidos, e ouvir-te-ei
Sem pés, irei ainda ao teu encontro
Sem boca, esconjurar-te-ei mais uma vez.
Parte-me os braços, e envolver-te-ei
Com o meu coração como se fora uma mão
Arranca-me o coração e o meu cérebro palpitará
E se ateares fogo mesmo ao meu cérebro
Transportar-te-ei no meu sangue.
Rainer Maria Rilke
5 comentários:
lindo. sempre ele. rilke.
pois é marta, sempre ele, o "nosso" amigo Rilke, quanto mais o leio ou sei sobre ele, mais gosto dele.
Se eu gritar, quem poderá ouvir-me,
nas hierarquias do Anjos?
E, se até algum Anjo de súbito
me levasse para junto do coração:
eu sucumbiria perante a sua
natureza mais potente. Pois o belo
apenas é o começo do terrível, que
só a custo podemos suportar…
RAINER MARIA RILKE, AS ELEGIAS DE DUÍNO
(Tradução Paulo Quintela)
Aqui fica, recado escondido nesta gaveta antiga. De outro tempo em que não te sabia o rosto e te lia pelas palavras de outras bocas.
Aqui ainda o tempo não nos tinha apanhado. As nossas vidas eram outras, anónimas ao outro. Perdia-me noutras coordenadas. Hoje olho para este tempo e gostava de ter também pertencido a ele. Pertencer-te ... mas desde o hoje, e passadas todas as horas sobre o momento em que os nossos olhos souberam que havia um corpo detrás das palavras de horas sem fim, vivo a cada dia com a certeza gritante de que respiro o teu corpo para viver. Nos teus cabelos encontro a calma do porvir. equilibro-me nas tuas mãos e procuro os teus braços para pousar o coração.
e como há palavras que não se dizem, digo-te que viverei neste mundo com esta vontade eterna de te querer sem limites.
...- ..
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