Cega-me os olhos, e ver-te-ei
Tapa-me os ouvidos, e ouvir-te-ei
Sem pés, irei ainda ao teu encontro
Sem boca, esconjurar-te-ei mais uma vez.
Parte-me os braços, e envolver-te-ei
Com o meu coração como se fora uma mão
Arranca-me o coração e o meu cérebro palpitará
E se ateares fogo mesmo ao meu cérebro
Transportar-te-ei no meu sangue.

Rainer Maria Rilke

5 comentários:

ana marta disse...

lindo. sempre ele. rilke.

miguel. disse...

pois é marta, sempre ele, o "nosso" amigo Rilke, quanto mais o leio ou sei sobre ele, mais gosto dele.

Anónimo disse...

Se eu gritar, quem poderá ouvir-me,
nas hierarquias do Anjos?
E, se até algum Anjo de súbito
me levasse para junto do coração:
eu sucumbiria perante a sua
natureza mais potente. Pois o belo
apenas é o começo do terrível, que
só a custo podemos suportar…


RAINER MARIA RILKE, AS ELEGIAS DE DUÍNO
(Tradução Paulo Quintela)

ana marta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ana marta disse...

Aqui fica, recado escondido nesta gaveta antiga. De outro tempo em que não te sabia o rosto e te lia pelas palavras de outras bocas.
Aqui ainda o tempo não nos tinha apanhado. As nossas vidas eram outras, anónimas ao outro. Perdia-me noutras coordenadas. Hoje olho para este tempo e gostava de ter também pertencido a ele. Pertencer-te ... mas desde o hoje, e passadas todas as horas sobre o momento em que os nossos olhos souberam que havia um corpo detrás das palavras de horas sem fim, vivo a cada dia com a certeza gritante de que respiro o teu corpo para viver. Nos teus cabelos encontro a calma do porvir. equilibro-me nas tuas mãos e procuro os teus braços para pousar o coração.

e como há palavras que não se dizem, digo-te que viverei neste mundo com esta vontade eterna de te querer sem limites.
...- ..