ISTO É O MEU CORPO

O corpo tem degraus, todos eles inclinados
milhares de lembranças do que lhe aconteceu
tem filiação, geometria
um desabamento que começa do avesso
e formas que ninguém ouve

O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
de onde vem este braço que toca no outro,
de onde vêm estas pernas entrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?

Não aprendo com o corpo a levantar-me,
aprendo a cair e a perguntar.


José Tolentino Mendonça, in "Estação Central" assírio & alvim, 2012

1 comentário:

Anónimo disse...

Pereginacao

Liga o braco longe a uma estrela

Prende distancias que teus pes ignoram
as arvores cruzam desse modo os seus ramos
enquanto multidoes falam
de milagres
que nao viveram

p49