OS LIVROS caíam sobre a minha máscara (e onde havia um esgar de velho moribundo), e as palavras açoitavam-me e um remoinho de gente gritava contra os livros, assim que os lancei todos à fogueira para que o fogo desfizesse as palavras...

E saiu um fumo azul dizendo adeus aos livros e à minha mão que escreve: “Rumpete libros, ne rumpant anima vestra”: que ardam, pois, os livros nos jardins e nas lixeiras e que se queimem os meus versos sem sair dos meus lábios:

o único imperador é o imperador do gelado, com o seu sorriso tosco, que imita a natureza e seu odor a queijo podre e vinagre. Os seus lábios não falam e ante essa mudez de assombro, caio estático de joelhos, ante o cadáver da poesia.


Leopoldo Maria Panero, in "poemas do manicómio de Mondragón" alma azul, 2003
trad. Jorge Melícias

4 comentários:

fallorca disse...

Olha que giro; faz-me lembrar a última página de «A Luva In Love», ed. Assirio e Alvim, que em paz descanse
Quem diria que alguma coisa nos ligava, sem ser o manicómio ;)

Anónimo disse...

caio estático de joelhos, ante o cadáver da poesia.

fallorca disse...

Andressa, nem mais.

Luis Garcia disse...

Actual...