O DESPERTADOR
Um despertador exposto sobre um tapete cheio de pó era tudo quanto possuía, para vender, o pobre comerciante árabe. Durante dias, reparou que uma velha se interessava pelo relógio. Era uma beduína, pertencente a uma daquelas tribos que voam com o vento.
«Desejas comprá-lo?», perguntou-lhe um dia.
«Quanto custa?»
«Pouco. Mas não sei se o vendo. Se também este desaparecer deixarei de ter um trabalho».
«Então porque o tens exposto?»
«Porque me dá a sensação de viver. E tu porque o queres, não vês que lhe faltam os ponteiros?»
«Faz tiquetaque?», quis saber a velha.
O comerciante deu corda ao despertador fazendo soar um sonoro e metálico tiquetaque. A velha fechou os olhos e percebeu que,
na escuridão da noite, podia assemelhar-se a um coração que bate ao lado do seu.
Tonino Guerra, in "Histórias para uma noite de calmaria" assírio & alvim, 2002
trad. Mário Rui de Carvalho
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
se o rapaz da foto do teu perfil es tu entao es muito bonito. pareces um actor frances.
Que texto bonito!
Consegui arranjar o livro na Almedina.
redonda,
já agora recomendo-lhe os outros dois livros do Tonino Guerra, ambos editados pela assírio & alvim, "O Mel" e "O livro das igrejas abandonadas".
abraço
miguel.
era esta a imagem que eu queria para o meu texto d Faulkner e n encontrava...vou roubar :)
Enviar um comentário