A RUA

É uma rua longa e silenciosa.
Ando às escuras e tropeço e caio
e levanto-me e piso com pés cegos
as pedras mudas e as folhas secas
e alguém atras de mim também as pisa:
se eu paro, pára;
se corro, corre. Volto-me: ninguém.
Tudo está escuro e sem saída,
e dou voltas e voltas em esquinas
voltadas sempre para a rua
onde ninguém me espera nem me segue,
onde sigo um homem que tropeça,
se levanta e ao ver-me diz: ninguém.

Octavio Paz

in, "correspondência literária 1, Inverno" contexto, 1984
trad. José Bento
ilust. Gérard Dubois

1 comentário:

Sílvia Alves disse...

não sei se de café se de loucos mantive por tempos a ausência.... mas volto sempre ao que me deixa saudades.