«Tão pequena e tão grande! Aqui, homem finalmente digno do teu nome, é que estás como eu quero, aqui te encontras à escala dos teus desejos. Este lugar, não receies chegar bem perto o teu rosto e já a tua língua, tagarela, não pode refrear-se, este lugar de delícia e sombra, este pátio ardente nos seus limites de nácar, a bela imagem do pessimismo. Ó greta, húmida e macia greta, vertiginosa.
Nesta humana esteira é que os navios finalmente perdidos, com as máquinas para todo o sempre inúteis, de regresso à infância das viagens sobem num mastro de sorte as velas do desespero. Entre pintelhos frisados como a carne é bela: sob este bordado bem dividido pelo machado do amor surge amorosamente uma pele pura, espumosa e láctea. E as formosas pregas que levam aos grandes lábios entreabrem. Lábios tão belos, a vossa boca parece a do rosto debruçado num adormecido, não direi transversa e paralela a todas as bocas do mundo, mas fina e longa, crucial nos lábios palradores que a conservam em silêncio, prestes a um beijo prolongado pontual, lábios adoráveis que soubestes dar aos beijos um novo e terrível sentido para todo o sempre depravado.
Como eu gosto de uma cona que ressalta.
Como se aproxima dos nossos olhos, ela, como incha atraente e cheia com a sua cabeleira de onde sai, tão parecido com as três deusas nuas sobre as árvores do Monte Ida, o brilho incomparável do ventre e das duas pernas. Toquem só: que melhor emprego para as vossas mãos. Toquem só neste sorriso de volúpia, desenhem com os dedos estes hiatus de encanto. Ali: que as vossas palmas imóveis, as falanges rendidas e esta curva avançada se reunam no ponto mais duro, o melhor, que faz elevar esta ogiva santa até ao cume, ó minha igreja. E não se mexam agora, assim, e com a carícia de dois polegares aproveitem agora a boa-vontade desta criança cansada, entrem um pouco, com a carícia dos vossos dois polegares acariciadores, os dois polegares. E agora, palácio rosado te saúdo, estojo polido, alcova meio desmanchada pela alegria grave do amor, vulva um só instante surgida em toda a sua opulência. Debaixo do cetim repuxado do nascente, a cor do verão quando fechamos os olhos.»

Louis Aragon, in "A cona de Irène" & etc, 1983
trad. Aníbal Fernandes

6 comentários:

fallorca disse...

O mais belo elogio da Cona que jamais li. Sim, Cona, passa bem sem vagina e aberrações similares

fallorca disse...

«Sim, Cona, passo bem sem vagina e aberrações similares». Puta da gralha, moralista da treta... :P

Anónimo disse...

http://doarcodavelha.blogspot.com/2008/09/louis-aragon-irenes-cunt.html

Só que nunca tinha lido!

miguel. disse...

manuel é um excelente texto… tal como o fallorca diz e bem… um belo elogio à cona

:)

fallorca disse...

Ai Manuel, só sabes «ler» os bonecos...
Não por acaso, o povo afirma, e com razão, «quem tem uma Cona, tem uma quinta; quem tem um caralho, tem um quintal». Se tiveres dúvidas, confirma com um agrimensor

Anónimo disse...

ehehe...