«(...) — Verifica-se que a reflexão, no seio do mundo orgânico, é inversamente proporcional à graça: quanto mais fraca aquela é, mais esta irradia e domina. O mesmo se dá com duas curvas que, passando de ambos os lados de um ponto, se cortam no infinito; ou com a imagem de um espelho côncavo que repentinamente se faz real depois de ter atingido o infinito; também assim a graça ressurge depois do conhecimento atravessar, digamos, um infinito; e da mais pura forma ela se mostra, quer no corpo humano desprovido de consciência, quer no corpo que tenha uma, infinita, querendo eu dizer no fantoche articulado ou em Deus.
— Dessa forma — respondi um tanto perplexo — seria necessário voltarmos a provar o fruto do conhecimento para recuperarmos o estado de inocência.
— Com certeza absoluta — respondeu — E será esse o derradeiro capítulo da história do mundo.»

Heinrich Von Kleist, in "As Marionetas" hiena, 1988
trad. Luís Bruhein e Aníbal Fernandes

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