CANSAÇO
Caminho dia e noite
Como um parque desolado
Caminho dia e noite entre esfinges desmoronadas de meus olhos
Perscruto o céu e sua erva cantante
Olho o campo ferido por gritos desmesurados
E o sol no meio do vento
Afago meu chapéu cheio duma luz incandescente
Passo a mão sobre o dorso do vento
Os ventos que passam como as semanas
Os ventos e as luzes com gestos de fruta e sede de sangue
As luzes que passam como os meses
Quando a noite se apoia sobre as casas
E o perfume dos cravos gira sobre seu eixo
Sento-me como o canto pássaros
É o cansaço longínquo e a neblina
Caio como o vento sobre a luz
Caio sobre minha alma
Eis o pássaro dos milagres
Eis as tatuagens de meu castelo
Eis as minhas plumas sobre o mar que se afasta
Caio de minha alma
E desfaço-me em pedaços de alma sobre o inverno
Caio do vento sobre a luz
Caio da pomba sobre o vento
ASTRO
O livro
E a porta
Que o vento fecha
Minha cabeça inclinada
Sobre a sombra do fumo
E esta página branca que se afasta
Escuta o rumor das tardes vivas
Relógio do horizonte
Sob a encanecida névoa
Dir-se-ia um astro de volúpia
Minha alcova balança como um barco
Mas és tu
Apenas tu
O astro que me ilumina
Contemplo tua desvanecida imagem
E aquele cândido pássaro
Bebendo a água do espelho
Vicente Huidobro, in “Natureza Viva” hiena, 1986
trad. Luis Pignatelli
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4 comentários:
Há Huidobro melhor, creio que nunca traduzido, mas para aperitivo, não está mau :D
E eu que desconhecia Huidobro...e desconheço tantos mais do que conheço.
Fallorca, acredito que sim, andei a ler alguns na página oficial do poeta... esta edição não é má, mas... enfim.
pode ser que alguma editora se lembre destas "estrelas distantes"
Hugo, hummm... ;)
anamar, o que é preciso é calma; calma à gémeos... porque o que por cá mais falta são «chá(rros) no deserto».
Fiquei cliente do chá e levo o meu "sebsi" ;)
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