QUATRO HORAS DA MANHÃ

São quatro horas da manhã
Levanto-me já vestido
Tenho um sabonete na mão
Que me enviou alguém que amo e me ama
Vou-me lavar
Saio do buraco que nos serve de cama
Estou bem disposto
E feliz por me poder lavar o que já não acontecia há três dias

Depois de me lavar vou-me barbear
De seguida azul como o céu confundo-me com um horizonte até que a noite caia e é um prazer muito doce
Nada dizer Tudo o que faço é um ser invisível que o faz
Porque uma vez abotoado todo de azul
Confundido com o céu torno-me invisível


Guillaume Apollinaire, in "o século das nuvens" assírio & alvim, 2007
trad. Jorge Sousa Braga
pint. Henri Rousseau [ La muse inspirant le poète ] 1909

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