que faria sem este mundo sem rosto sem perguntas
onde ser dura apenas um instante onde cada instante
verte para o vazio o esquecimento de ter sido
sem esta onda onde no final
corpo e sombra juntos se devoram
que faria sem este silêncio sorvedouro dos murmúrios
que anelam frenéticos por socorro por amor
sem este céu que se ergue
sobre a poeira do seu lastro

que faria faria o que fiz ontem o que fiz hoje
espreitar do meu postigo para ver se não estou só
a dar voltas e voltas longe de toda a vida
num espaço fantoche
sem voz no meio das vozes
encerradas comigo


Samuel Beckett

[in Relâmpago, revista de Poesia nº 13, Outubro de 2003]
trad. Manuel Portela

6 comentários:

Catarina Barros disse...

olá miguel, preciso muito do teu e-mail, seria possível enviá-lo para o mail da trama?

sophiarui disse...

que faria...

;)

Anónimo disse...

A "minha mesa no café ao lado da Câmara" tem tanto a ver com essa esplanada como eu com o senhor Samuel. Mas foi lá que me entregaram "O Senhor Teste", e por lá me faço "que faria faria o que fiz ontem o que fiz hoje
espreitar do meu postigo para ver se não estou só
a dar voltas e voltas longe de toda a vida
num espaço fantoche
sem voz no meio das vozes
encerradas comigo"
Abraço e obrigado, Hugo

miguel. disse...

também eu gostava de estar nesta mesa de café... espero que o livro tenha chegado em boas condições, boas leituras...

abraço

Anónimo disse...

...palavras sempre magnanimes as deste genio. . .

Anónimo disse...

deichai à farinha ki Ela tome Kon(t)a da faria...
becoz hoji meu nome fffoi o v.lorenco, eheheh