«Hoje também não fui à faculdade. Levantei-me cedo, apanhei o autocarro com destino à UNAM, mas desci antes e dediquei grande parte da manhã a vaguear pelo centro. Primeiro entrei na Livraria da Cave e comprei um livro de Pierre Louÿs, depois atravessei Juárez, comprei uma empada de presunto e fui ler e comer sentado num banco da Alameda. A história de Louys, mas sobretudo as ilustrações, provocaram-me uma erecção de cavalo. Tentei pôr-me de pé e ir-me embora, mas com a verga naquele estado era impossível caminhar sem provocar olhares e o consequente escândalo, já não apenas das viandantes mas de todos os peões em geral. Por isso voltei a sentar-me, fechei o livro e limpei as migalhas do casaco e das calças. Durante muito tempo fiquei a olhar para qualquer coisa que me pareceu um esquilo e que se deslocava sigilosamente pelos ramos duma árvore. Ao cabo de dez minutos (aproximadamente) dei-me conta de que não se tratava de um esquilo mas sim de uma ratazana. Uma ratazana enorme! A descoberta encheu-me de tristeza. Ali estava eu, sem me poder mexer, e a vinte metros, bem agarrada a um ramo, uma ratazana exploradora e esfomeada em busca de ovos de pássaro ou de migalhas arrastadas pelo vento até à copa das árvores (duvidoso) ou do que quer que fosse. A angústia subiu-me até à garganta e tive náuseas. Antes que vomitasse, levantei-me e larguei a correr. Ao cabo de cinco minutos a bom passo, a erecção tinha desaparecido.»
trad. Miranda das Neves
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