EROS É A ÁGUA

Entre as tuas pernas
o mar revela-me estranhos recifes
rochas erguidas corais altaneiros
contra a minha gruta de búzios concha nácar
o teu molusco de sal persegue a corrente
a pequena água inventa-me barbatanas
mar da noite com luas submersas
tua ondulação brusca de polvo congestionado
acelera nas minhas guelras um latejar de esponja
e os cavalos minúsculos flutuam entre gemidos
enredados em longos pistilos de medusa.
Amor entre golfinhos
aos saltos lanças-te sobre o meu flanco leve
recebo-te sem ruído olho-te entre bolhas
cerco o teu riso com a minha espuma
ligeireza da água oxigénio da tua vegetação de clorofila
a coroa de lua abre espaço ao oceano.
Dos olhos prateados
flui longo olhar final
e erguemo-nos do corpo aquático
somos carne outra vez
uma mulher e um homem
entre as rochas.

Gioconda Belli, in "O mar na poesia da América Latina" assírio & alvim, 1999
trad. José Agostinho Baptista

imag. Lorenzo Mattotti

1 comentário:

Anónimo disse...

Andastes inspirado :)