O LAMENTO DE ZIZI

Estou apaixonado pela doença do riso
far-me-ia muito bem se a tivesse –
usei as esplêndidas cabaias do Sudão,
pus os magnificentes halivas de Boudodin Bros.,
beijei as Fátimas cantantes do chulo de Adém,
escrevi gloriosos salmos no café Hakhaliba,
mas nunca tive a doença do riso,
então para que sirvo eu?

O comerciante gordo oferece-me ópio, kief, haxixe,
até suco de camelo,
tudo é insatisfatório –
Oh noite amarga e terrível! tu de novo! Terei ainda
que tirar os meus dentes irreais
despir o meu irrisível eu
pôr a dormir esta cabeça melancólica?
Não sou nada sem a doença do riso.

O meu pai apanhou-a, o meu avô também;
certamente o Tio Fez há-de apanhá-la, mas eu, eu
a quem faria tão bem,
apanhá-la-ei alguma vez?


Gregory Corso, in "Antologia da novíssima poesia norte americana" futura, 1973
trad. Manuel Seabra

2 comentários:

lebredoarrozal disse...

o corso, o corso:)
como eu adoro a poesia dele, acho que só a do ferli a supera:)

miguel. disse...

é pena não haver mais Corso, pelo menos traduzido... quanto ao Ferli... sim, concordo, o Ferli é o Ferli... :)