As mãos escrevem nas pálpebras
a palavra astro
neste fim de tarde solitário.
A morte é a mais lúbrica das criaturas
e vem e vai
e pendura nas paredes
mil e uma fórmulas secretas
em que são iguais as quantidades de realidade
e do que a ela se opõe.
O vento está visivelmente cansado
arranhou-se num espinheiro
e corre-lhe pelo peito quente
um fio de sangue.
Qualquer coisa como música
advém do seu silêncio
e o olhar é uma ponte nitidíssima
entre duas realidades que não há.


Artur do Cruzeiro Seixas, in "A única real tradição viva" assírio & alvim, 1998

imagem: desenho de Artur do Cruzeiro Seixas, s/t

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