UM TOTOBOLA PARA TODOS

Nos confins da Ásia existia um povo muito infeliz.
Desde o Ministro ao simples camponês passavam todos imensas privações trabalhando vinte e quatro horas por dia a fim de pelo menos tentarem morrer decentemente.
Mas todos ima para à vala comum.
Até que o Governo teve a ideia luminosa de instituir uma Lotaria Nacional (estilo Totobola).
O povo que desde há tempos vinha já resmungando: «mau, mau, de que vale trabalhar tanto se nem conseguimos amealhar para um enterro decente», aceitou a ideia, a principio, com certa relutância.
Mas os felizes contemplados na lotaria logo tratavam do seu próprio enterro.
Os caixões eram de ouro fino ou madeiras raras cravejados das pedras mais preciosas: diamantes, rubis e esmeraldas.
Os cortejos fúnebres passaram a constituir alegres procissões com muitos arautos que apregoavam a glória do defunto.
Com a eliminação progressiva dos concorrentes, os restantes totobolistas adquiriram a certeza de ainda chegarem a ser totalistas.
Eliminada a insegurança quanto ao futuro aquele povo passou a ser um povo muito feliz.

Pedro Oom, in "Actuação escrita" & etc, 1979

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