Gregor transformou-se em barata gigante.
Eu não: fiz-me aranhiço,
tão leve que uma leve brisa o faz
oscilar no seu fio de baba lisa.
Até que, contra a lei da natureza,
creio que tenho peso negativo,
e me elevo ao ar se me não prendo
ao canto mais escuro desta ilha.
Quando descer à teia derradeira
não se verá no mundo alteração, ou só
talvez alguma mosca mais contente.
Em noites de luar, na alta esquina,
ficará a brilhar, mas sem ser vista,
a estrela que tracei como armadilha.

António Franco Alexandre, in "Aracne" assírio & alvim, 2004

imagem de Odilon Redon

2 comentários:

Gonçalo Mira disse...

Já era tempo de aqui aparecer o senhor António Franco Alexandre. Esse livro é belíssimo. Um dos meus livros preferidos, sem dúvida. Leio-o vezes e vezes e acho que nunca vou deixar de o ler. Bela escolha.

miguel. disse...

Já tem aparecido... alguns poemas de outros dois livros "As moradas / 1&2" e de um dos que mais gosto "Duende", este é realmente um grande livro, mas tenho uma simpatia muito especial pelo "duende" ...
quanto à escolha deste poema... bem, tem muito que se lhe diga ;)

obrigado pela visita :)