«Viajar, se não cura a melancolia, pelo menos, purifica. Afasta o espirito do que é supérfluo e inútil; e o corpo reencontra a harmonia perdida — entre o homem e a terra.
O viajante aprendeu, assim, a cantar a terra, a noite e a luz, os astros, as águas e a treva, os peixes, os pássaros e as plantas. Aprendeu a nomear o mundo.
Separou com uma linha de água o que nele havia de sedentário daquilo que era nómada; sabe que o homem não foi feito para ficar quieto. A sedentarização empobrece-o, seca-lhe o sangue, mata-lhe a lama — estagna o pensamento.
Por tudo isso, o viajante escolheu o lado nómada da linha de água. Vive ali, e canta — sabendo que a vida não terá sido um abismo, se conseguir que o seu canto, ou estilhaços dele, o una de novo ao Universo.»

Al Berto, in "O anjo mudo" assírio & alvim, 2001

3 comentários:

ana marta disse...

Viajar pode ser ... mudar. Querer ter novos olhos e ver com olhos grandes. Há quem viaje sem sair do mesmo lugar e há os que viram mundo com olhos cegos, sem a ânsia da descoberta. Para saber viajar é preciso saber-se ser livre.
E ser nómada é ser livre. Ser nómada é ser livre no pensamento.

"A vida não pode ficar em nós a repetir-se,
que repetir é estar parado.
É ocupar o mesmo lugar."

no fundo ser livre é isto.

Anónimo disse...

Há de facto uma diferença abismal entre o Viajante e o Turista, o 1º Vê o outro é Cego.

Seja bem vindo!

Anónimo disse...

Talvez viajar, no sentido de ver outro lugar, não queira dizer nada. Todos vivemos do mesmo jeito. Viajar é preciso?