«Não sou poeta, tenho de o reconhecer apesar de ser capaz de exprimir «o que sofro» — em boa verdade, apenas em monólogo. Seja o que for «exprimir» é a palavra adequada que resulta sempre. Funciona pois, como uma libertação, uma espécie de confissão na esperança de me absolver a mim próprio. Acima de mim não existe outro juiz ou padre.
Resta-me pouco tempo, todavia qualquer um se pode retirar, durante um mês, para uma floresta, ou um deserto. Aí pode descrever o seu problema, ou antes, circunscrevê-lo — desta forma ele é determinado mesmo que não seja resolvido. Talvez o cante ou, se descobrir uma caverna, o confie às paredes de cores minerais, preto, vermelho, amarelo. Aí o problema poderá permanecer adormecido até alguém, um dia, ao fazer a sua investigação, o descubra e desenterre, mas melhor seria se se conservasse escondido para sempre.»

Ernst Jünger, in "O problema de Aladino" cotovia, 1983

1 comentário:

nrc disse...

É por esta capacidade de falar de forma "fácil" das coisas "difíceis" que Ernst Jünger é dos meus preferidos. Boas férias.