BILHETE DE COMBOIO

De cartão duro, com o destino
e a hora de chegada bem vincados.
Imune aos enganos do computador,
às dedadas vigilantes do revisor,
meu destino será permanecer,
e um dia despertar, no meio de um livro.

Célere, percorremos a plataforma,
a rapidez do lince, o amor
a salvo da armadilha.

Vamos regressar aos campanários,
à eira, às descidas semanais
ao café para comprar o jornal.

Sei que nos primeiros meses
nada vai existir a não ser
o corpo dela
rodado, projectado
no écran da memória;

mas também sei que a vida
quase sempre se esconde
daqueles que a amam
com talento dissipador.


Jorge Gomes Miranda, in "o acidente" assírio & alvim, 2007

1 comentário:

ana marta disse...

gostava de ter sido eu a escrever este poema.

o comboio liga-me à única coisa que dá sentido à minha vida.