OS CAFÉS
Locais de encontro, de convívio, de critica, de conspiração até, os Cafés de Lisboa contribuíram grandemente para a sobrevivência de uma cultura à margem da cultura oficial.
Nos Cafés, apesar da vigilância fascista sempre presente, falava-se discutia-se, por vezes sem quase prudência. Desde a anedota política, passando pelas teses sobre arte e literatura, até ao plano acabado de revolução, tudo os Cafés possibilitaram.
Palavras ausentes da Imprensa e da Rádio, palavras rigorosamente proibidas pela policia faziam parte do vocabulário quotidiano das conversas dos Cafés.
Numa época em que o acesso ao livro normal era dificil e perigosa a leitura da obra revolucionária, os Cafés, através dos seus frequentadores, proporcionaram que titulos não fossem esquecidos e temas novos conhecidos e discutidos. Na maior parte dos casos conheciam-se os livros, menos pela leitura directa do que pela informação prestada por uma amigo, às vezes por um conhecido de ocasião.
Os Cafés foram, de certo modo, centros naturais e espontâneos de uma resistência mental activa.
Talvez se pudesse falar mesmo de uma cultura oral, urbana, nascida e desenvolvida nos Cafés.
Os revolucionários de Café, os políticos de Café, os intelectuais de Café, foram expressões utilizadas sobretudo com o objectivo de minimizar uma forma de vida, incipiente, é certo, mas persistente e livre.
Afinal, num meio asfixiante, numa cidade policiada em todos os sentidos, foram desses revolucionários, políticos e intelectuais de Café que saíram verdadeiros revolucionários, políticos e intelectuais.
A palavra, o pensamento estavam nos Cafés.
António José Forte, in "uma faca nos dentes" parceria a. m. pereira (2003)
fotografia de Herberto Aguiar, 1958/1959 (?)
em pé, da esquerda para a direita: Pepe Blanco e Henrique Varik Tavares.
sentados: Mário Cesariny, António José Forte, Virgílio Martinho e Benjamim Marques.
local: Café Royal
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