TERNURA
Cheguei a casa um pouco mais cedo que de costume.
Tirei a ventoinha da cabeça, pus-me à vontade, fui ver se os mamutes estavam a fazer disparates e sentei-me na sala, no velho e confortável sofá que a tia Mizé nos oferecera pelo casamento. Querida ti Mizé! Preparei um Gin.
Josela ainda não chegara. Estava atrasada, talvez as compras, quem sabe.
Foi quando ouvi abrir a porta. Fui ver. Josela chegava, empurrando o carrinho antigo que servira para o nosso filho agora com dezoito anos como sabem, e com um bom lugar de Viet qualquer coisa, lá não estou bem certo onde; lugar seguro e de futuro, foi o que me disseram. Bom rapaz, o nosso garoto.
Olhei o carrinho. Trazia um bebé dentro. Josela sorria. Vi o preço. Razoável. Do talho do senho Esteves. Manias da Josela.
Olhei Josela.
Tinha os olhos brilhantes, havia uma ternura inesperada que a envolvia, uma tristeza distante nas mãos.
— Achas que podemos ficar com ele? — perguntou-me, afirmando.
Concordei. Josela manda.
Era um bebé ainda em muito bom estado. Durou cinco dias até apodrecer, calculem!
Mário-Henrique Leiria, in "Casos de direito Galático, o mundo inquietante de Josela (fragmentos)" editorial república (1975)
imagem de Ray Caesar
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2 comentários:
é isto que eu gosto (ou não) no teu blog: esta vontade voraz de comprar livros! :)
ups, enganei-me, reformulando:
esta vontade que me dás de comprar livros!
(assim sim)
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