Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acôrdo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
 

Alberto Caeiro

imagem de Gérad Dubois

2 comentários:

franksy! disse...

hum... conheço alguém que está neste momento a sofrer do mesmo mal do sr. caeiro...


é horrivel! [na minha humilde opinião] o sentir, não o que escreve!

*

AB disse...

brigada pelo link :)

Qto ao poema... é triste... mas é belo tb.. é humano.

au revoir