CREPUSCULAR

A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.

Nuno Judice

imagem de Greg Spalenka

5 comentários:

hazey jane disse...

isto é-me familiar... :)

hazey jane disse...

(tenho pena... que nada do que pertencesse ao espaço deixe de ter espaço para ser... sim?)

Anónimo disse...

hmmm...

miguel. disse...

era uma vez um ministério...

:)

Anónimo disse...

hmm... :P