Aldina [ António José Forte ]


UM HOMEM

de repente
como uma flor violenta
um homem com uma bomba à altura do peito
e que chora convulsivamente
um homem belo minúsculo
como uma estrela cadente
e que sangra
como uma estátua jacente
esmagada sob as asas do crepúsculo
um homem com uma bomba
como uma rosa na boca
negra surpreendente
e à espera da festa louca
onde o coração lhe rebente
um homem de face aguda
e uma bomba
cega
surda
muda

António José Forte, in "uma faca nos dentes" & etc (1983)

2 comentários:

Anónimo disse...

sente-se a ansiedade neste poema.

Naja disse...

Ligeiro o retrato de José Forte, um peso-pluma sem inquietações. Tem outra espessura a sua poesia... um homem com uma bomba à altura do peito... um homem de face aguda... versos de marcenaria maciça que sangram pelos veios. Talvez a quietude chegue depois de os escrever.