POTLATCH [ o boletim da Internacional Letrista ] fenda
Para quem se interessa pelos pequenos gestos brilhantes e ainda mais por aqueles que deliberadamente ignorados pela historiografia oficial, mas que mudaram o curso dos acontecimentos culturais e políticos do século XX, aqui fica uma breve sequência de eventos que estão na génese da publicação de POTLACH:
—Em 1946, Isidore Isou cria o movimento Letrista, em ruptura, bastante pacífica diga-se de passagem, com André Breton e o surrealismo. A poesia onomatopaica baseada na letra como unidade lexical mínima é o estandarte do movimento.
—Em 1950, como crime fundador do letrismo, quatro jovens interrompem a missa pascal de Notre-Dame de Paris, e um deles, disfarçado de frade dominicano, salta para o altar e lê uma homilia em que proclama aos fiéis a morte de deus, escapando (por milagre?) à subsequente perseguição da policia convocada pelos verdadeiros padres logo que se aperceberam do embuste.
—Em 1951, Guy Debord entra em contacto com os letristas em Cannes, vindos expressamente de Paris para contestar o conhecido Festival e exigir a projecção do filme de Isou "Traité de bave et d'eternité" feito de quatro horas de cinema discrepante.
—Em 1952, um pequeno grupo de jovens radicais, entre os quais Debord, constitui a Internacional Letrista (I.L.) uma tendência clandestina à margem do movimento.
—No mesmo ano, consuma-se a cisão da I.L. com Isou após este se ter demarcado de uma acção pública de sabotagem a uma cerimónia de entronização de Charles Chaplin por parte de establishment cultural da época.
—Em 1954, inicia-se a publicação do boletim POTLATCH.
—Por fim, em 1957, a I.L. desaparece para dar lugar a uma outra Internacional mais consistente, a Situacionista.
Em concreto, POTLATCH consiste numa série de pequenos opúsculos, na verdade simples textos policopiados publicados entre 1954 e 1957, enviados gratuitamente (em coerência com a designação) para algumas pessoas escolhidas de forma a produzir maior efeito. Isto é, tanto como informação como provocação. Teve vários responsáveis, várias designações editoriais, várias periodicidades, mas ao certo nunca ocupou mais do que uma duzia de pessoas (e na sua redacção de forma consistente ainda menos do que isso).
Apesar desta aparente precariedade orgânica, a influencia foi e continua a ser enorme. Nunca é preciso muita gente para perturbar as sociedades. As boa ideias chegam. E elas abundam nas folhas que se seguem.
do prefácio
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