O CÃO

Exacto oboé de pelo
por quatro patas contido
humanos de não querer sê-lo
pontualmente enternecido

geométrica dose de amor
aos pés do dono rio
cão por fora absoluto
de cão não ser escondido

idioma de nascituro
povo no ovo, o seu latido
por nos seguir é cão.
Mas se seguido ?


Natália Correia

imagem de Greg Mably

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro Miguel...este poema faz parte...como sabe...do livro O Solstício da Besta...título lindo.
Eu tenho um gato...como o sempre desejado Agostinho da Silva...adoro gatos.Como o meu amigo me fez por aqui apresentar semelhante bicho...em verso,claro...deixo outro.

O GATO

O gato nos atravessa
como se fossemos invisíveis
sua travessia é a peça
que falta para sabermos

que o corpo que tanto nos pesa
de não ser àgua potável
é o modo de desaperecermos
aos olhos do gato o implacável

Da casa ele é o génio
que o telhado retém
e o ardor das paredes
impede que se extinga

e por aí adiante......

Isto para lhe dizer que tenho saudades da Natália...amiga das noites do velho Botequim...do Dórdio e de tantos outros.Ser velho é isto...é ter suadades de ter saudades.

Cumprimentos

Joker disse...

-Ora então muito boa noite!
-...
-É um café, "faxavor"!
-...
-Sim...dos loucos!
-...

Olha só que sitio difernte em vim descobrir, ainda por cima aberto a estas horas...um achado, sem dúvida!

Gostei do ambiente...é bem frequentado...

-Quanto é?
-...
-Ah, já está pago? Posso saber quem foi a alma caridosa que me pagou o café?
-...
- Um louco? Ah bom, ok! Agradeço!

Sendo assim, vou voltar, talvez para a próxima vez, volte de manhã...um galãozinho e uma torrada devem saber bem na companhia dos loucos!

Anónimo disse...

Escrevi-te...

:)

animadverto disse...

Uma séria “obra”, que tão bem nos afirma com a nossa modesta “insustentável leveza do ser”. O instinto de um cão, por vezes tão bem presente em nós, mas do qual pomos de parte, ignoramos com o nosso intelecto. Essa força racional que transforma a nossa visão em nós, aquando diante a um espelho, nas mais variadas formas, cores, personalidades, máscaras… Enquanto que um cão… vê um cão. Simplicidade no ser.

“Timbuktu” de Paul Auster, uma boa estória de cães “para cães” Aconselho :)

Nice coffee

Júlia disse...

"Pontualmente enternecido" é coisa que bem convinha à alma humana, para, de resto, se ser feito de razão.

Gostei do poema.