ANGÚSTIA

Não venho , não, vencer esta noite o teu corpo
animal, pecador por todo um povo, nem
em tuas tranças cavar, impuras, tristes ondas
sob o tédio mortal derramado num beijo:

no teu leito o que busco é um sono sem sonhos
perpassando por sob cortinas de remorsos,
e que podes gozar em mentiras medonhas,
tu que sabes do nada ainda mais que os mortos:

porque o Vício, a roer minha nobreza inata,
marcou-me como tu com a esterilidade,
mas enquanto em pedra o teu seio é talhado

cheio de um coração que nenhum crime mancha,
eu fujo, angustiado, da mortalha que é minha,
com medo de morrer quando durmo sozinho.


Stéphane Mallarmé

4 comentários:

Anónimo disse...

Adorei a "foto" que acompanha o poema.
Liiiiiiiiiiiiinda, tão simples, tão bonita, tão aconchegadinha...

:)

animadverto disse...

"Um dia, descerrando as pálpebras, e chorando, pensei: 'vivo'. Então começou a angústia, este sopro de animal estranho." (Alfonso Reyes)

Nice coffee

Frioleiras disse...

Lindo !......embora eu não goste de circulos, de... buracos...
mas, as figuras, lá dentro, divinas !

Unknown disse...

Caro Miguel....
Quando é que o vamos ter de volta ao Café?
Terá bebido ou preparado as restantes bicas do mês?...assim num círculo tão delicioso...e convidativo?Será de antever coisas excelentes?....bem

Cumprimentos


Ps. Gosto dos ventos do Norte...sopram audazes e certeiros...