No céu, uma ave distraída. A frágil semente que encobriu a ignorância, outorgou-lhe a soberba da arvore, onde foi engravidada a primeira mulher que abraçou a tua delicada origem, e dela nasceste velho, com o monólogo que discute interminavelmente sobre o teu árido olhar.
Vem escutar o rumor do rio antes de começar a tua oração. Alguma vez o fizeste, e foi na noite em que te divorciaste da luz e da escuridão, e o sol era a pupila indestrutível dos que habitavam em círculos perfeitos o aroma da penumbra. Então, eras a tua própria esperança, repleto de uma dor doce sobre as tuas palavras como a passagem da névoa perante a intranquilidade das naves. A tua serenidade avançava como um cordão frágil ao qual atavas o teu destino e a incerteza que te provocava o som da água ao tocar as margens da terra.
Todos morreram, pensaste, e o pranto surgiu de costas para a vida no tempo em que ainda não se inventavam as cidades. Sobre o rio onde se criou a espiga, viste aquela barca que nunca chegou ao porto e da qual se ouvia a queda da terra. Não eras tu aquele que desejava descobrir o nome do peixe, a sinceridade da Rocha ? Ainda dentro da estridente nebulosa, o homem é a causa do homem. Aproxima-te das margens desse rio, e poderás tocar o desconhecimento do teu rosto.

Olivério Macías Álvarez in. "um mundo estranho"

imagem de Craig Larotonda

1 comentário:

franksy! disse...

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