As minhas ocupações


É raro encontrar alguém sem que eu lhes bata. Há quem prefira o monólogo interior. Eu não. Gosto mais de bater.
Há pessoas que se sentam à minha frente num restaurante e não dizem nada, deixam-se ficar durante algum tempo porque decidiram comer.
Cá está um.
Eu arrepanho-to, truz.
Eu rearrepanho-to , truz.
Penduro-o no bengaleiro.
Desprego-o.
Rependuro-o.
Redesprego-o.
Ponho-o em cima da mesa, comprimo-o e sufoco-o.
Sujo-o, imundo-o.
Ele reanima-se.
Enxaguo-o, estico-o (começo-me a enervar, tenho de acabar), amasso-o, aperto-o,
comprimo-o e introduzo-o no meu copo, e entorno ostensivamente o conteúdo para o chão, e digo ao empregado da mesa: "Dê-me então um copo mais limpo."
Mas sinto-me mal, pago a conta de imediato e vou-me embora.

Henri Michaux in. "Antologia" relógio d'água

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