Paul Gaugin (1848/1903) [Stéphane Mallarmé] 1891


BRISA MARINHA

Triste carne, ai de mim! Já li os livros todos.
Fugir! longe fugir! As aves sinto a modos
De ser ébrias de espuma entre o mistério e os céus!
Nada, nem os jardins espelhados nos meus olhos,
o coração retém quase afogado,
Ó noites! nem a luz da lâmpada tão árida
No vazio papel que brancura rejeita,
E nem a jovem mãe que ao peito o filho aleita.
Hei-de partir! Veleiro a mastrear, tu, larga
as amarras, desmanda outra exótica plaga!
Um tédio, a curtir esperanças cruéis,
crê ainda no adeus das lágrimas nos lenços!
E os mastros, talvez, atraindo os presságios
Sejam dos que o tufão verga sobre os naufrágios
A afundar-se, sem mastros nem ilhéus fecundos...
Escuta, coração, o canto dos marujos!

Stéphane Mallarmé in "Poesias" assirio & alvim

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