SÓ ESSA

repito, de mim para mim, vezes sem numero,
a promessa que fomos entre as primaveras abraçadas
e o fio de luz que escoava nos plátanos, já noite.
recordo o aroma doce que, misturado nos teus lábios,
abria vento fora o corpo e o carinho do corpo e a voz,
de mel que vinha dormir junto de mim, o teu nome

lembro também o ano em que habitávamos o frio,
no Inverno vertical que caía sobre nós com os dias
e os minutos em que o lume se internava na madeira
e, por momentos, nos deixava a sós com o estrondo
da casa quase vazia, a maneira como nos tocávamos.

«e se as esquinas não dessem para outra rua e tudo
se abismasse de súbito: como saberias de mim?»,
perguntaste-me quando os teus pulsos acharam o azul
e redondos espreitaram no mar a constelação de búzios
onde dizes ter nascido – como podia eu saber de ti?

compreendo por que deitaste para dormir, em silencio,
sem te demorares na varanda, sem escutares a floresta,
assim como quem descobre uma palavra nunca ouvida
e sabe que só essa valeria o dizer – e fui eu o poço

vou uma vez mais até ao extremo desta terra estremecida
e encontro o lugar vazio onde a bruma anuncia o que talvez não retorne
por não haver sangue entre nós, um segredo que leve a tua mão à minha,
uma volta de planeta que devolva as ruas e as esquinas em que eu sei de ti.


Vasco Gato, in “um mover de mão” assírio & alvim, 2000

1 comentário:

Anónimo disse...

Heart Beats
When Your Heart In Winter Beats
Don´t Let That Cold Blood Freeze Cause Frozen Love Will Bleed Blood Streaked Streaked With Frozen Leaves Leaves Broken Streets For Me Slips
On Cold Red Streets Winter Beats
It Strikes For You And Me
Don´t Let That Cold Blood Freeze
Cause Frozen Love Still Bleeds


http://www.youtube.com/watch?v=-Sg7YkPnEYw