em janeiro...
A música I: breve súmula dos mais importantes ditados do Ministro Calvo
Concordemos todos: o perigo que é ouvir pássaros cantarem melodias
alegres. O perigo que é! Felizmente, o Muro serve de barreira, a
Floresta fica longe, e os ramos das árvores. Mas não sejamos
desprevenidos. A música não é apenas, como muitos julgam, mera
organização matemática de sons. Ou: que bonito!, ou: que horror! A
música também é medicamento: pode deter a eficácia inata de um
poderoso ansiolítico, ou guardar fortes propriedades vitamínicas. Daí
alterar estados de ânimo, compassos cardíacos. Pois, tal como uma arma
de grande calibre quando empunhada, um violoncelo, um saxofone,
derrubam, imobilizam, silenciam, amolecem, colocam lágrimas onde antes
não as tínhamos. E, de igual forma, vocês sabem isto, um piano faz
deslizar o corpo, ou levanta-nos de um pulo como um gafanhoto, ou
põe-nos a correr com o vento da alegria a arreganhar a boca.
Posto isto, colocam-se questões indispensáveis:
Que música deve o Governo ouvir para se fazer mais forte, e irresistível?
E que música permitiremos nós dar a todas as cabeças silvestres e
corações toscos que nesta cidade abundam, para que não lhes cresça na
boca a espuma da baba raivosa?
Sandro William Junqueira, in "um piano para cavalos altos" caminho, 2012
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