25 de Novembro...

Luiz Pacheco era capaz das loucuras mais desapiedadas, mas também de actos de grande generosidade. Pessoa cheia de contrastes e incoerências, tinha uma enorme facilidade para relacionar-se com os outros e, depois, para cortar relações. Impulsivo e inconstante, aparecia e desaparecia de repente. Capaz de prescindir de tudo e de começar do zero, durante anos viveu em pensões manhosas, de onde muitas vezes era expulso por falta de pagamento. Era um especialista em dívidas e em não as pagar. Conheceu a miséria, o vício e a degradação. Gostava de estar perto dos marginais e das ovelhas ranhosas, porque com aqueles que não têm nada a perder conhecem-se melhor os labirintos da alma humana. Fundador da Editora Contraponto, conhecia bem o campo da edição e o meio das Letras, onde fervilhavam as intrigas e as capelinhas, e contra tudo isso lutou, recusando-se a participar na engrenagem dos manejos literários. Desmascarou os falsos prestígios e maltratou alguns intocáveis da cultura. Alguns viam Pacheco como um apocalíptico, um herdeiro da tradição dos grandes inconformistas. Mas foi simultaneamente um produto do próprio meio literário. Capaz de aparecer nu no meio do Montijo ou de pijama no Largo do Carmo, no 25 de Abril, em torno de Luiz Pacheco criou-se uma lenda, histórias e boatos que circulavam e que quase nunca se incomodou em desmentir, porque, como alguém disse, essa era a melhor forma de chegar a génio.

João Pedro George "Puta que os pariu!" tinta da china, 2011



Henry Miller dizia que "O Colosso de Maroussi" era o seu melhor livro. Seduzido pelas descrições da Grécia, Miller parte com o seu amigo Lawrence Durrell à descoberta do interior daquele país. Entre dias ao relento na praia, atropelados por rebanhos de ovelhas, noites em pensões decadentes mas carregadas de história, em aldeias com um único forno para toda a população, e peregrinações à Acrópole de Atenas, Miller descobriu na Grécia o sentido da civilização:
«Eu tinha caminhado com os olhos vendados, em passos cambaleantes, hesitantes; era orgulhoso, arrogante, satisfeito com a vida falsa e limitada de homem da cidade; a luz da Grécia abriu‑me os olhos, penetrou os meus poros, fez todo o meu corpo dilatar‑se. Descobri a minha pátria.»

Henry Miller "O colosso de Maroussi" tinta da china, 2011

5 comentários:

Anónimo disse...

Que notícia do caralho!
Como é que esta gente sabe destas coisas?

Anónimo disse...

Uma biografia do Pacheco é o acontecimento do ano!
Espero que o JP George tenha estado à altura de uma coisa destas.

miguel. disse...

posso adiantar que tem 616 páginas... ;)

Gabri El'Viegas disse...

E preço?

miguel. disse...

pvp 23.90€

;)