O Santo Graal da Loucura...


Quem tem a bengala de Artaud? Quando me perguntam por um símbolo supremo ou imagem de loucura, penso sempre nessa bengala a que o dono mandou pôr uma ponteira de ferro com que batia violentamente nos paralelepípedos de Paris para fazer saltar chispas. A bengala estava cheia de nós e tinha duzentos milhões de filamentos e entalhes de signos mágicos. E Artaud fazia saltar chispas porque dizia que a bengala tinha o signo mágico do raio no nono nó e que o número nove foi sempre o algarismo da destruição através do fogo. Artaud perdeu essa bengala (que lhe ofereceu René Thomas) na sua estranha viagem à Irlanda, perdeu-a depois de uma zaragata em frente do Jesuit College, de Dublin. Quem tem o Santo Graal da loucura? Quem é que ficou com a bengala de Artaud? Gostava de escrever um romance onde alguém viaja até Dublin para investigar o paradeiro da bengala de Artaud. Quem tem, meus senhores, essa bengala que é o eixo central da loucura no Ocidente?

Enrique Vila-Matas, in “Diário Volúvel” teorema, 2010
trad. Jorge Fallorca

2 comentários:

fallorca disse...

«Gostava de escrever um romance onde alguém viaja até Dublin para investigar o paradeiro da bengala de Artaud.» E escreveu, intitula-se "Dublinesca" e já cá canta desde Dezembro. Depois vou dando «notícias»

imo disse...

é um livro que aguardo ansiosamente. obrigada.