PREFÁCIO

«Excepcional e engenhoso monólogo, o livro de Brendan Behan é um solilóquio tão emotivo quanto humoristico sobre a cidade de Nova Iorque, que o autor considera (eu também) o lugar mais fascinante do mundo. Nada — diz Behan — pode comparar-se a essa cidade eléctrica, que é o centro do universo. O resto é silêncio, flagrante obscuridade.
«Depois de ter estado em Nova Iorque», diz Behan, «qualquer pessoa que regresse a casa dar-se-á conta de que o seu lugar de origem é bastante escuro.» A mim acontece-me sempre isto quando deixo Nova Iorque e regresso à minha cidade, e este livro de Behan é em parte culpado de isso me acontecer, porque o livro deixou em mim uma estranha saudade de bares onde nunca entrei.Ele escreveu-o em fim de vida no Hotel Chelsea, quando já estava muito alcoolizado, no princípio dos anos sessenta. Eram dias de twist e madison, mas também de uma incipiente revolução.Alguns anos antes, o galês Dylan Thomas tinha-se apresentado no Chelsea, na noite de 3 de Novembro de 1953, anunciando que tomara dezoito uísques seguidos e que considerava aquilo um recorde (morreu seis dias depois).Passados uns dez anos, como se aquele fosse sem tirar nem pôr o próprio «barco ébrio» do poema de Rimbaud, o irlandês Behan havia de apresentar-se também naquele hotel em condições tão alcoolizadas como as do galês, e seria auxiliado pelo dono do Chelsea, que lhe daria alojamento e que lhe permitiu escrever este livro nos corredores do hotel.Porque ele escreveu o livro fora do seu quarto, num corredor — depois de várias incursões pelo Chelsea consegui confirmá-lo — do mesmo andar em que vivera Dylan Thomas. E o livro foi ditado, não foi escrito, porque Behan já andava por esses dias espectacularmente bêbado.Vivia na memória doa bares que agora eu, sem nunca os ter frequentado, costumo recordar.»

Enrique Vila-Matas

Bredan Behan "Nova Iorque" tinta da china, 2010
trad. Rita Graña

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