SUICIDE—HOUSE
(...)
— Este corredor aonde leva?
— Ah, é a secção de asfixia. Queira entrar. A asfixia é ainda hoje um dos suicídios de maior actualidade. Temo-las para todos os gostos: fogareiro, gás de iluminação, vapores clorídricos, iodo… A menos que, sendo V. Ex.ª de seu natural artista, e um pouco poeta, não prefira envenenar-se com o aroma de flores desconhecidas. Há agora uma combinação de nenúfares de Java com flores de de Takeoka, que extingue, evocando rondas de deidades, todas nuas, maravilhosas de lascívia, as quais beijam na boca o — porque assim o chamemos — padecente. É imprevisto, hem? Ora sente-se o Snr. Duque neste fauteuil: vou-lhe fazer um principiozinho de experiência… Há-de gostar! Nada receie: a porta assim calafetada — como vê, todo o recinto tem uma couraça impermeável ao ar exterior — agora abre-se aqui esta torneira. Atenção! Desejava V. Ex.ª fazer, antes de partir, disposições testamentárias? Quer confiar ao fonógrafo a sua frase célebre? Se não trouxe frase, a casa fornece. Há em mimoso, em desesperado, em filosófico…
— Decididamente a asfixia maça-me. Que mais tem?
(…)
Fialho D'Almeida, in "Fialho Negro" & etc, 1981
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1 comentário:
belissimo;)
S.
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