De noite, já tarde, fui procurar Nick Cave na cidade, mas o que me veio parar às mãos foi qualquer coisa diferente: um pescador da costa oriental, vermelhusco e brilhante de gordura. Despi-lhe as roupas, falei-lhe longamente do amor, das estrelas e da lei da gravidade da Terra. Ele ouviu, aguçando as grandes orelhas e sorrindo ingenuamente, com um ar idiota. Quis muito e bem depressa, e eu pus na mesa o melhor que tinha para oferecer. De manhã balbuciava como um bebé acabado de mamar e queria mais. Fiz como ele quis. Sorri e sussurrei-lhe ao ouvido, ofereci-lhe tudo numa bandeja de ouro. Deixei-o penetrar-me, ao mesmo tempo que que lhe apertava o pescoço com toda a minha força. Um gargarejo, e o seu espírito deslizou-lhe para fora do corpo balofo. Levantei-me, vesti-me, encomendei o pequeno-almoço e saí.
Rosa Liksom, in "Os paraísos do caminho vazio e outros contos" relógio d'água, 1994
trad. Merja Sinikka Nousia e Marta Duarte Daniel Dias
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