LEMBRANDO CHET

Caíra da janela ou atirara-se?
Ninguém o poderia saber.

Junto ao cadáver estava a corneta,
a crisálida de metal que o protegera
da morte em vida.

Hoje lembrei-me dele, da sua música de eterno neófito
arrebatado, e juro-vos que não chorei.

Afinal o amor é cosa mentale, caixa espectral
onde se precipitam as negras águas
da crença e do desejo.


Luís Quintais, in "Mais espesso que a água" cotovia, 2008

4 comentários:

le monde de zuza disse...

foto mágica de chet & poema também muito bonito

Carlos Lopes disse...

Excelente texto, excelente blog. Excelente.

Cláudia Oliveira disse...

muito bom!
adorei o blog e os textos =)

Naja disse...

Esse ar gasto... essa pálpebra fechada... quase lhe adivinho os pensamentos. A trompete de Chet contrasta com a vida dissoluta que levou. Se o seu sopro é acetinado, lustroso, lírico, o seu quotidiano foi feito de drogas pesadas, assaltos, prisões, dentes partidos e aquele salto mortal numa praça de Amsterdão. Assim mesmo, trompete celestial, vida infernal. À frente da palavra contraste, os dicionários deviam imprimir simplesmente Chet Baker.