dias 1 e 2 de Novembro, na antiga lota, junto à ponte velha (Portimão), às 21.30
O AUTOR
Samuel Beckett (Dublin 1906-Paris 1989) é um dos grandes mestres da literatura do século XX. Participante no movimento modernista e da renovação do romance e do teatro desse século, Beckett, que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1969, é o autor de romances e peças de teatro consagradas mundialmente como Murphy, Watt, Molloy, À espera de Godot e Dias Felizes.
SINOPSE
"Naquela altura eu não percebia as mulheres. Aliás agora também não. Nem os homens. Nem os animais. O que percebo melhor, e não é dizer muito, são as minhas dores." Samuel Beckett, in “Primeiro Amor”.
Um homem conta a sua história. Uma história de amor? Sim, e não só. Entre o cemitério e um banco de jardim, entre altas urtigas e bostas de vaca, entre uma casa e outra casa ele relata como as coisas realmente se passaram entre ele e Lulu. Ou será Ana? "Mas que importância tem o modo como as coisas se passam a partir do momento em que se passam." A história é sempre a mesma. Desde o princípio do verbo que tem sido assim. A ironia da vida. As adversidades do amor. A inadiável morte. Nunca houve outros assuntos. Nunca haverá outra história. Seja deste ou de outro homem. Os adereços mudam mas o assunto não. Sempre. A vida. O amor. A morte. O medo. O riso. O desespero. Aperversidade. A repetição.
ESTE ESPECTÁCULO
Este espectáculo nasce de uma provocação. A novela "Primeiro Amor" escrita por Samuel Beckett.
Samuel Beckett não é um autor meigo. A sua escrita intensa e provocadora, marcou o século XX, marca o século XXI, e continuará viva e actual por muitos mais. Beckett é sempre um desafio. Para quem o lê. Para quem o encena. É um autor radical. Nele não há temperaturas amenas. Godot, Dias Felizes, Malone, Molloy, Catástrofe, O inominável, Not I, Come and Go, Breath. São exemplos. Quando penso em Beckett, penso numa cabeça. Na cabeça do Homem. Tudo está na cabeça. Fechado. Então é preciso abri-la. A cabeça começa a agir: a boca começa a falar. Um precipício de palavras. Sem travão. Sem filtros. E o corpo obedece à cabeça. Às palavras. Esta cabeça quase não precisa do corpo. Mas já que o tem de carregar, manda nele. A cabeça como início e fim. O corpo como extensão.Como não possui moral, nem preconceitos, a cabeça diz aquilo. Tem a coragem de atirar cá para fora, sem filtros, sem cadeados, aquilo tudo: as coisas todas que nos passam pela cabeça! E são tantas as coisas que passam pela cabeça do Homem!E nós o que fazemos com aquilo? Engolimos em seco o nó da garganta, coçamos o nariz, compomos o vestido, retorcemos o bigode, limpamos as gotas de suor da testa, remexemos o rabo no assento da cadeira, atiramos gargalhadas para afastar o incómodo. Beckett causa incómodo, estranheza e riso. Pois quanto mais o lemos e ouvimos, mais próximo estamos da nossa incompreensão e da incompreensão dos outros. Afinal como nos vamos compreender, aceitar, perdoar, amar, se está tudo na cabeça? Fechado na cabeça. Na dele. Na minha. Na vossa. E ninguém tem a chave. Por isso, talvez o melhor seja não criar barreiras intelectuais. Não tentar dissecar com o bisturi toda a mensagem. Deixem-se levar pela cabeça. Deixem a cabeça falar. Andar. Chorar. Rir. Defecar. Cantar. Acusar. Lamentar. Dançar. Comer. Agredir. Imaginar. Salvar. Amar, se for caso disso. Deixem a cabeça vaguear, livre.
Eis o meu pensamento para esta noite.
Sandro William Junqueira
FICHA TÉCNICA
Texto: Samuel Beckett
Encenação: Sandro William Junqueira
Interpretação: Rui Cabrita
Cenografia: Paulo Quaresma
Desenho de Luz: Rui Luacto
Figurinos: A Gaveta
Música: Luís Conceição
Sonoplastia: Rui Bentes
Aconselhamento: Prof. José Louro
O AUTOR
Samuel Beckett (Dublin 1906-Paris 1989) é um dos grandes mestres da literatura do século XX. Participante no movimento modernista e da renovação do romance e do teatro desse século, Beckett, que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1969, é o autor de romances e peças de teatro consagradas mundialmente como Murphy, Watt, Molloy, À espera de Godot e Dias Felizes.
SINOPSE
"Naquela altura eu não percebia as mulheres. Aliás agora também não. Nem os homens. Nem os animais. O que percebo melhor, e não é dizer muito, são as minhas dores." Samuel Beckett, in “Primeiro Amor”.
Um homem conta a sua história. Uma história de amor? Sim, e não só. Entre o cemitério e um banco de jardim, entre altas urtigas e bostas de vaca, entre uma casa e outra casa ele relata como as coisas realmente se passaram entre ele e Lulu. Ou será Ana? "Mas que importância tem o modo como as coisas se passam a partir do momento em que se passam." A história é sempre a mesma. Desde o princípio do verbo que tem sido assim. A ironia da vida. As adversidades do amor. A inadiável morte. Nunca houve outros assuntos. Nunca haverá outra história. Seja deste ou de outro homem. Os adereços mudam mas o assunto não. Sempre. A vida. O amor. A morte. O medo. O riso. O desespero. Aperversidade. A repetição.
ESTE ESPECTÁCULO
Este espectáculo nasce de uma provocação. A novela "Primeiro Amor" escrita por Samuel Beckett.
Samuel Beckett não é um autor meigo. A sua escrita intensa e provocadora, marcou o século XX, marca o século XXI, e continuará viva e actual por muitos mais. Beckett é sempre um desafio. Para quem o lê. Para quem o encena. É um autor radical. Nele não há temperaturas amenas. Godot, Dias Felizes, Malone, Molloy, Catástrofe, O inominável, Not I, Come and Go, Breath. São exemplos. Quando penso em Beckett, penso numa cabeça. Na cabeça do Homem. Tudo está na cabeça. Fechado. Então é preciso abri-la. A cabeça começa a agir: a boca começa a falar. Um precipício de palavras. Sem travão. Sem filtros. E o corpo obedece à cabeça. Às palavras. Esta cabeça quase não precisa do corpo. Mas já que o tem de carregar, manda nele. A cabeça como início e fim. O corpo como extensão.Como não possui moral, nem preconceitos, a cabeça diz aquilo. Tem a coragem de atirar cá para fora, sem filtros, sem cadeados, aquilo tudo: as coisas todas que nos passam pela cabeça! E são tantas as coisas que passam pela cabeça do Homem!E nós o que fazemos com aquilo? Engolimos em seco o nó da garganta, coçamos o nariz, compomos o vestido, retorcemos o bigode, limpamos as gotas de suor da testa, remexemos o rabo no assento da cadeira, atiramos gargalhadas para afastar o incómodo. Beckett causa incómodo, estranheza e riso. Pois quanto mais o lemos e ouvimos, mais próximo estamos da nossa incompreensão e da incompreensão dos outros. Afinal como nos vamos compreender, aceitar, perdoar, amar, se está tudo na cabeça? Fechado na cabeça. Na dele. Na minha. Na vossa. E ninguém tem a chave. Por isso, talvez o melhor seja não criar barreiras intelectuais. Não tentar dissecar com o bisturi toda a mensagem. Deixem-se levar pela cabeça. Deixem a cabeça falar. Andar. Chorar. Rir. Defecar. Cantar. Acusar. Lamentar. Dançar. Comer. Agredir. Imaginar. Salvar. Amar, se for caso disso. Deixem a cabeça vaguear, livre.
Eis o meu pensamento para esta noite.
Sandro William Junqueira
FICHA TÉCNICA
Texto: Samuel Beckett
Encenação: Sandro William Junqueira
Interpretação: Rui Cabrita
Cenografia: Paulo Quaresma
Desenho de Luz: Rui Luacto
Figurinos: A Gaveta
Música: Luís Conceição
Sonoplastia: Rui Bentes
Aconselhamento: Prof. José Louro
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